Falo de Baudelaire, em que imortalizou o saltimbanco desenraizado, solitário e miserável num dos seus poemas em prosa, e de Edmond de Goucourt que publicou uma alegoria da existência de artista num romance que tem por quadro o circo. Falo de Picasso, em que ia assistir às representações do Circo Medrano em Montmartre, ver artistas de rua, a gente do circo e os recreadores públicos onde manifestam, entre outros, um objecto de predilecção da arte progressiva, e que encontro até à iconologia do circo nas obras de Toulouse-Lautrec e de Seurat. Falo de Francis Bacon, em que tal como no circo, no estádio, o espaço de representação está aberto na direcção do espectador, que assiste ao espectáculo do quadro com uma visão em ligeiro plongé. Damião Porto, Fevereiro 2008